segunda-feira, 29 de junho de 2020

Ronaldo Brissant

Quando comecei a retomar a ideia deste Blog do GATHO, pedi aos companheiros antigos que escrevessem algo sobre suas participações na reuniões do GATHO, como veem o Movimento LGBT hoje.

O primeiro a se manifestar foi o companheiro Ronaldo Brissant, que era servidor público nos anos 1980, assim como eu e tantos outros, como Nelson,  Zé Popó e Rinaldo e hoje está aposentado.

Foto: acervo pessoal de Ronaldo Brissant





Mandou-me o seguinte texto:


Querido Júnior,

Bom dia, hoje é o Dia do Orgulho LGBTQIA+ (é assim mesmo?), mas sou de um tempo em que não existia nem mesmo ainda o dia do Orgulho Gay, que depois virou do Orgulho GLS, depois LGBT, e hoje é essa “sopa de letrinhas”…

Você me pediu para falar de umas breves memórias minhas sobre o GATHO, mas, além de tantas coisas terem-se perdido na poeira do tempo com as correrias da vida, minhas lembranças daquela época são muito escassas, acho que não tenho muito o que contar.

Lembro-me de pouco porque: a) não estive na linha de frente; b) minha militância foi “minimum minimorum”, como diria nosso Amigo Rinaldo que a covid-19 levou recentemente; c) minha participação no Grupo foi sempre ir às reuniões, mais motivado pela esticada à farra na noite olindense após os encontros.

Recordo que aprendi muito no convívio com todos, mesmo que algumas vezes houvesse umas disputas internas pela liderança, às vezes algumas desavenças passageiras, e/ou, pela imposição de ideias sobre como enfrentar os preconceitos e os estigmas daqueles anos, que apenas amenizaram na atualidade (e isso, com certeza, é consequência das lutas que pessoas como você, Sávio, Popó, Wilma, e tantos que davam a cara e se mostravam). Nunca tive a coragem e a disposição para tanto. Meus medos sociais não me permitiam isso.

Por isso, o que teria para contar? Quarenta anos passados, as lembranças são borrões quase apagados, talvez não acrescentem nada à memória de uma ideia tão corajosa e ousada na época, que tantas pessoas dispostas e críticas tiveram naquele momento, do qual apenas fui um observador. Daqueles dias me restaram amigos queridos, pelos quais tenho um carinho imenso ainda que com eles não tenha convívio social hoje.

Olhando pelo retrovisor, sei da importância que teve o movimento, pois sem a ousadia daqueles corajosos, do GATHO e de tantos outros nacionalmente, talvez a liberdade e o empoderamento que se tem hoje, com certeza, ainda seria apenas um desejo.

Um beijão agradecido por você e tantos outros, inclusive os que não estão mais conosco por tão variados motivos.

RonaldoBrissant

Recife, 28 de junho de 2020.

P.S.: Não foi fácil escrever, minha emoção ficou abalada, e termino com os olhos marejados… RB

Obrigado, Ronaldo!

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